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Recorde de lideranças indígenas assassinadas mostra 'liberalização da violência', diz líder da CPT

As sete lideranças indígenas mortas em episódios de conflito fundiário no Brasil em 2019 representam o período mais violento dos últimos 11 anos, informa relatório preliminar da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Sputnik

Os números do informe preliminar foram publicados pelo G1. Em 2018, foram duas lideranças dos povos originários assassinadas.

Os mais recentes episódios violentos aconteceram no final de semana, quando duas lideranças indígenas Guajajara foram mortas em um atentado no Maranhão e o indígena Humberto Peixoto Lemos morreu no hospital em Manaus, Amazonas, após ser agredido a pauladas.

"Este ano é extremamente preocupante e grave para a questão da terra, a questão fundiária do país. Na verdade, desde 2016 a gente já vem sofrendo tanto com o sucateamento dos órgãos quanto com as próprias instâncias relativas às questões fundiárias sendo entregues de bandeja para o agronegócio", afirma à Sputnik Brasil o coordenador nacional da CPT Paulo César Moreira.

A medida provisória da legalização fundiária assinada nesta quarta-feira (11) pelo presidente Jair Bolsonaro é vista com preocupação por Moreira, que também diz que as palavras do presidente tem um "reflexo direto na violência que está sendo perpetrada".

Por repetidas vezes, Bolsonaro disse que não irá demarcar terras indígenas e já afirmou, em 2017, que os quilombolas (descendentes da população escravizada trazida ao Brasil) "não servem nem para procriar". 

Moreira acredita que há um "aumento de grupos fascistas no Brasil" e que está sendo aberto o caminho para a "liberalização da violência".

"O Estado tem uma responsabilidade grande nisso. Porque com esses assassinatos, as pessoas que fizeram isso e os mandantes, se não sofrerem punição, esse sinal verde que já está aceso pode avançar e criar um clima de aumento ainda maior da violência. É um cenário extremamente grave", analisa o coordenador da CPT.

Após o mais recente assassinato de indígenas no Maranhão, o ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciou o envio da Força Nacional para a região. Moreira, contudo, enxerga a decisão com desconfiança: "O governo tenta mostrar alguma importância, alguma necessidade de dirimir essa situação. No entanto, isso parece extremamente falso quando, de outro lado, são implementadas medidas contrárias. A liberação das armas, toda essa política de apoio ao agronegócio."

Em nota, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia que o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, "substituiu antropólogos de larga experiência técnica em Grupos de Trabalho criados para proceder estudos de identificação e delimitação de terras indígenas por 'pessoas de confiança', sem competência para o trabalho".

O Cimi também diz que Moro "se nega a receber os representantes indígenas que têm solicitado audiências para resolver pendências territoriais" e que há uma "instrumentalização da política indigenista, em favor dos interesses econômicos dos ruralistas, mineradores e madeireiros".

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