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Se Argentina não se recuperar, será difícil para Brasil 'respirar', avalia economista

A crise argentina já afeta a economia do Brasil, e se país vizinho não se recuperar, será "muito difícil" para a indústria brasileira, principalmente automotiva, "respirar", avalia Mayara Santiago, pesquisadora da FGV.
Sputnik

A situação complicada pode ser compreendida por algo que não ocorria há 16 anos: a balança comercia brasileira terá déficit com a Argentina em 2019.

Segundo Mayara, pesquisadora da área de Economia Aplicada do FGV-IBRE (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas), mesmo que o Brasil tente compensar a queda nas vendas negociando com outros parceiros, o "poder de prejuízo" da crise argentina na economia brasileira é grande.

"Apesar de termos outros parceiros comerciais, e da participação deles estar crescendo, em relação aos automóveis, fabricação de partes de automóveis e bem final, a Argentina é nosso principal parceiro. Se não houver uma recuperação será muito difícil respirar nesse setor", disse à Sputnik Brasil.

Dados do Ministério da Economia mostram que, de janeiro a outubro de 2019, o saldo comercial com o país vizinho está negativo em US$ 621,8 milhões. De acordo com a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), esse número ainda pode chegar a US$ 1 bilhão.

Para comparação, em 2018 o Brasil teve superávit de US$ 3,861 bilhões na balança comercial com a Argentina.

Relações políticas podem afetar economia

Além da questão econômica, a política também preocupa, pois o governo do presidente Jair Bolsonaro demonstrou bastante insatisfação com a vitória da chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner nas eleições argentinas.

Rompendo uma tradição, Bolsonaro não participará da posse do novo presidente argentino, marcada para 10 de dezembro. O governo decidiu enviar o ministro da Cidadania, Osmar Terra. Bolsonaro chegou a falar que o povo argentino tinha escolhido "mal" seu novo mandatário.

Para Mayara, as relações entre os dois países precisam ser pragmáticas. "Apesar dessas relações estremecidas no começo, a Argentina é nosso principal parceiro na região, é importante que essas relações não fiquem estremecidas, que o país volte a crescer, e com isso a gente consiga voltar a exportar para a Argentina, que é realmente muito importante para nossa indústria", opinou. 

Recuperação será lenta

Mesmo num ambiente favorável, a pesquisadora, no entanto, apontou que a recuperação da balança comercial é um processo lento. "O novo presidente eleito tem uma tarefa bastante difícil, ele tem que arrumar a casa. A gente tem que esperar para ver como vai se sair, pois não tem nada definido, essas coisas não se resolvem do dia para a noite, não se resolvem em seis meses, talvez não se resolvam em um ano. O cenário como um todo não é muito bom", afirmou.

A economista da FGV indicou uma solução para compensar as perdas no comércio com o país vizinho: alimentar o poder de comprar do consumidor brasileiro para aumentar a demanda interna. Cenário que, mesmo com previsões um pouco melhores para a economia no ano que vem, ainda não se concretizou. 

"Estamos esperando um crescimento para o ano que vem mais forte do que esse ano. Se a economia se recuperar, o emprego crescer, a gente pode recuperar parte dessa perda com a demanda interna. O que no momento não está acontecendo. Se conseguimos alimentar o poder de comprar do consumidor brasileiro, parte do da perda com a diminuição das exportações para a Argentina a gente pode recuperar", analisou.
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