Armadilha para Tomahawk: como Rússia se protegeria dos mísseis da OTAN?

Rússia está construindo novos radares para seu sistema de alerta de mísseis que abrangem ameaças vindas de qualquer lado.
Sputnik

Quaisquer tipos de alvos aéreos serão detectados a uma distância de vários milhares de quilômetros. Nos próximos anos o sistema russo de alerta sobre ataques de mísseis será reforçado com novíssimos radares além do horizonte Konteiner. Eles operam com um ângulo de visão aumentado e podem acompanhar simultaneamente milhares de alvos. O Exército receberá o primeiro desses radares antes do final do ano.

Contra o hipersom

O desenvolvimento da estação de radar de duas coordenadas além do horizonte 29B6 Konteiner foi iniciado em meados dos anos 90 por engenheiros do Instituto de Pesquisa de Radiocomunicação de Longa Distância. O princípio de funcionamento deste radar é baseado na reflexão das ondas de rádio da ionosfera terrestre, em que o sinal dirigido em um determinado ângulo "faz ricochete" da camada atmosférica ionizada e atinge o alvo e, depois de ser refletido por ele, regressa ao receptor.

Desta forma é determinada a localização exata do objeto, sua velocidade e direção de voo. Os Konteiner, na sua maioria, são preparados para detecção de alvos aerodinâmicos a altitudes de até cem quilômetros. Ou seja, eles não verão os mísseis balísticos em voo, embora possam detectar seu lançamento a partir da superfície da Terra.

Esses radares são capazes de detectar e rastrear não apenas objetos grandes e relativamente lentos, como aviões e mísseis de cruzeiro, segundo o desenvolvedor, a estação também reconhece mísseis hipersônicos a uma distância recorde de três mil quilômetros. No total, o Konteiner pode acompanhar ao mesmo tempo cinco mil objetos aéreos de diferentes tipos e características.

O primeiro exemplar do Konteiner foi colocado em serviço experimental em 2013. A parte transmissora da estação está localizada na região de Nizhny Novgorod, enquanto a parte receptora está em Mordóvia, onde foi instalado um campo de quase 150 antenas de 30 metros. O local foi escolhido tendo em conta que o Konteiner tem uma zona morta com um raio de 900 quilômetros. Por isso, a estação foi colocada no interior do país, de onde ela controlará o espaço aéreo dos países vizinhos.

Armadilha para Tomahawk: como Rússia se protegeria dos mísseis da OTAN?

O primeiro Konteiner abrange a direção oeste. Sob seu controlo fica a maior parte da Europa e, consequentemente, as principais zonas de destacamento de tropas da OTAN. Isto é especialmente importante no contexto da recente cessação do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário. O radar permite o monitoramento constante das bases aéreas e de mísseis da OTAN.

De acordo com Kirill Makarov, diretor-geral do Instituto de Pesquisa de Radiocomunicações de Longa Distância, no futuro essas estações irão proteger a Rússia de todos os lados. Está previsto que os Konteiner sejam implantados no Extremo Oriente, no noroeste e no sul.

Nas imediações

Outro elemento novo do sistema de alerta de mísseis são as estações de radar além do horizonte costeiras Podsolnukh (Girassol) com onda de superfície. Estes radares controlarão a situação aérea e de superfície na zona econômica costeira da Rússia. Suas capacidades são mais modestas que as do Konteiner. Estas estações operam a uma distância de até 450 quilômetros.

Uma das principais vantagens do Podsolnukh é sua flexibilidade em todas as condições meteorológicas. Ele detecta bem tanto os navios e aviões fabricados com tecnologia furtiva como os equipamentos convencionais.

No modo totalmente autônomo, a estrutura detecta e acompanha até 300 objetos marítimos e 100 objetos aéreos simultaneamente. Ao mesmo tempo, o radar os avalia com precisão, determinando se se trata de um alvo em grupo ou isolado, se é um alvo aéreo ou de superfície, assim como determina sua dimensão.
As informações do radar são prontamente recebidas pelos postos de comando da defesa costeira, onde é tomada a decisão sobre o uso do armamento antiaéreo.

Armadilha para Tomahawk: como Rússia se protegeria dos mísseis da OTAN?

O primeiro agrupamento a receber os Podsolnukh foi a Flotilha do Cáspio. As tripulações dos navios de mísseis treinam regularmente sua interação com as equipes dos radares durante exercícios e recebem delas as posições dos alvos condicionais no mar Cáspio. Os marinheiros reconhecem que, com o novo radar, tornou-se muito mais fácil controlar a área marítima que lhes foi confiada e o espaço aéreo por cima dela.
Recentemente, a Rússia implantou estações Podsolnukh no Extremo Oriente e na região do Báltico.

Ameaça intercontinental

No entanto, apesar de sua alta eficiência, os Podsolnukh e Konteiner são apenas uma ferramenta de suporte no Sistema de Alerta de Ataque de Mísseis. O papel mais importante aqui é desempenhado pelas estações pré-programadas do tipo Voronezh. São concebidos para detecção em longas distâncias, principalmente de mísseis balísticos intercontinentais.

Com capacidades impressionantes, uma das características da estação é o tempo mínimo gasto na montagem e implantação. O Voronezh vem de fábrica em forma de blocos e contentores padronizados e depois é montado rapidamente no local, levando em conta as condições operacionais e táticas da área de implantação.

O radar da primeira modificação do Voronezh-M, implantado na região de Leningrado, foi recebido pelos militares russos em 2006. Ele opera na faixa de um metro e abrange a área desde Marrocos a Svalbard, Noruega. Modificações posteriores com os índices "DM" e "SM", respectivamente, funcionam nos modos de decímetro e centímetro.

Armadilha para Tomahawk: como Rússia se protegeria dos mísseis da OTAN?

O escalão terrestre do radar está espalhado por todo o perímetro da Rússia. As estações estão em serviço de prevenção nas regiões de Kaliningrado, Irkutsk, Orenburgo, Krasnodar, Krasnoyarsk e Altai. Em 2024, mais um Voronezh será colocado na Crimeia.

Recordemos que a construção de um sistema de alerta de mísseis escalonado começou na URSS no início dos anos 60. O antecessor do sistema moderno foi um sistema constituído por dois radares Dnepr para detecção de mísseis balísticos em Murmansk e Riga, de onde as informações eram enviadas para um posto de comando na região de Moscou.

Armadilha para Tomahawk: como Rússia se protegeria dos mísseis da OTAN?

Os primeiros radares eram estruturas enormes, de manutenção complexa e com um consumo de energia enorme. Após o colapso da URSS, muitos componentes do sistema de alerta ficaram fora da Rússia e deixaram de funcionar. No entanto, algumas estações construídas pela União Soviética, como as da Bielorrússia e do Cazaquistão, ainda hoje se encontram em serviço.

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