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Nova liderança europeia pressionará Bolsonaro na questão ambiental e indígena, dizem especialistas

A eleição da ambientalista alemã, Ursula von der Leyen, como presidente da Comissão Europeia pode impactar o Brasil sob o acordo Mercosul-União Europeia em relação às políticas ambientais do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PSL).
Sputnik

Com uma bandeira voltada para as questões ambientais, a alemã se elegeu com apoio da chanceler Angela Merkel e também do presidente da França, Emmanuel Macron. Ursula von der Leyen é também a atual ministra da Defesa da Alemanha e cientista, com declarado apoio à pauta ambiental. Uma de suas principais promessas é fazer da Europa um continente livre das emissões de carbono.

A Sputnik Brasil entrevistou um especialistas em política internacional e também um ambientalista para analisar o impacto dessa eleição na política ambiental brasileira, uma vez que o setor é crucial para a implementação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.

Amazônia e questão indígena serão fundamentais

A história de vida de Ursula von der Leyen mostra muito sobre o se deve esperar de sua postura no âmbito da relação com o Brasil e o Mercosul. É o que afirma, em entrevista à Sputnik Brasil, Leonardo Trevisan, especialista em Geoeconomia Internacional e professor de Relações Internacionais da ESPM-SP.

Trevisan recorda que a futura presidente da Comissão Europeia teve atuação importante dentro da Alemanha para mudanças na política ambiental do país.

Nova liderança europeia pressionará Bolsonaro na questão ambiental e indígena, dizem especialistas

"Ela tem um passado, ela tem uma história, em que as relações ambientais marcaram os diferentes cargos que ela ocupou. Até mesmo - isso é central de ser visto - há uma luta histórica dela em torno das usinas nucleares", lembra o especialista, acrescentando que ela foi "uma espécie de pivô" na mudança da postura ambiental do partido de Angela Merkel, como no apoio à desativação das usinas nucleares na Alemanha.

Trevisan é contundente ao afirmar que o histórico da próxima presidente da Comissão Europeia mostra que a questão ambiental para ela é "basilar", ou seja, central em sua atuação.

"Nesse aspecto eu acho que o Mercosul encontrou hoje uma situação diferente e inesperada. O quadro com que ele [o Mercosul] negociou o acordo não é o mesmo quadro político que vai governar a Europa a partir de setembro. Esse quadro vai ter o seu peso", explica o pesquisador.

Além disso, Trevisan acredita que a Amazônia e a questão indígenas serão pontos de pressão com a eleição da alemã.

"A presença de Ursula na Comissão Europeia, não tenho dúvidas, terá uma força muito maior para fazer pressões, em especial sobre a Amazônia", explica o professor, concluindo que "um dos lados dessas pressões - talvez o lado mais enfático dessas pressões - estará em torno da questão indígena".

"Brasil caminha para isolamento diplomático"

Sérgio Ricardo, ecologista e gestor ambiental, além de fundador do movimento Baía Viva, no Rio de Janeiro, acredita que a atual gestão ambiental brasileira cria problemas diplomáticos para o país.

"O Brasil, desde a posse do presidente Bolsonaro, com uma política anti-meio-ambiente, tem caminhado para uma espécie de isolamento diplomático", afirma em entrevista à Sputnik Brasil.

Ricardo cita o que chamou de "aumento vertiginoso do desmatamento na Amazônia", com perda de 19 hectares de floresta a cada hora.

O ecologista ressalta que esse quadro já criou problemas internacionais, que é o caso do Fundo Amazônia, financiado por Alemanha e Noruega, que ameaçam cessar com o financiamento.

"Ao meu ver esse é um padrão que não será alterado durante o governo Bolsonaro. É um governo de extrema-direita, foi eleito com um discurso anti-populações indígenas, contra a demarcação das terras indígenas, foi eleito com um discurso contra as questões ambientais", detalha.

Para Ricardo, o governo Bolsonaro tem destruído os avanços que foram conquistados no setor ambiental desde a redemocratização.

Nesse contexto, o especialista acredita que há um olhar negativo da comunidade global sobre a situação brasileira.

"Há uma preocupação internacional com os rumos da democracia brasileira, que está ameaçada a partir da ascensão de uma força de extrema-direita", afirma.

Ele ainda acrescenta que atual política frustra expectativas anteriores sobre os rumos brasileiros.

"Esperava-se que o Brasil, a partir da assinatura do acordo do clima [...] avançasse para uma mudança do seu padrão de desenvolvimento", conclui o ecologista que teme pela vida dos ambientalistas ao longo da atual gestão.

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