O que acontecerá caso Pequim se livre dos títulos do Tesouro americanos em meio à guerra comercial?

Em meio à guerra comercial com os EUA, a China poderia vender seus títulos do Tesouro norte-americano em resposta às novas tarifas sobre produtos chineses aplicadas por Washington, avisam os analistas. Claude Barfield, ex-consultor da Representação Comercial dos EUA, explicou à Sputnik Internacional as possíveis consequências dessa ação.
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A China é o maior detentor de títulos da dívida pública dos EUA, possuindo obrigações no valor de cerca de 1,2 trilhão de dólares (R$ 4,5 trilhões). Entretanto, Pequim está reduzindo seus investimentos nesse ativo: apenas em março de 2019, a China vendeu títulos do Tesouro dos EUA no valor de 20 bilhões de dólares.

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Claude Barfield, antigo consultor da Representação Comercial dos EUA e especialista em comércio internacional, explicou à Sputnik Internacional que consequências ambos os países poderiam enfrentar se a China decidir usar os títulos do Tesouro dos EUA como arma na guerra comercial com Washington.

Segundo Barfield, a possível venda dos títulos de dívida pública dos EUA é frequentemente apresentada como um golpe duro contra a economia americana, mas é preciso ter em conta que os chineses também seriam afetados, porque desistiriam de um investimento seguro.

"Os títulos do Tesouro dos EUA são bastante seguros e, afinal, onde é que eles iriam colocar o dinheiro? Eles e o resto do mundo enfrentariam pelo menos uma perturbação de curto prazo. Há também outros países que investem em títulos do Tesouro dos EUA, então, no fim de contas, acredito que os EUA seriam afetados inicialmente, mas não haveria qualquer tipo de golpe mortífero para os Estados Unidos", opina o especialista.

Quanto às consequências para a economia global, Barfield declara que inicialmente o mercado enfrentaria algumas perturbações.

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"Entretanto, acredito que os títulos do Tesouro dos EUA são fortes e há muitos outros [países] que estão dispostos a investir neles, então acredito que isso seria uma breve perturbação, poderia ser grave, pelo menos inicialmente, se fosse uma surpresa para o mercado, mas não acho que seja, no fim de contas, devastador para a economia dos EUA. Além disso, as instituições multilaterais como o Banco Mundial e o FMI fariam o necessário para estabilizar a economia mundial e os mercados mundiais", explicou ele.

Para o economista, outros países detentores de obrigações americanas continuam interessados em investir nos títulos de dívida pública dos EUA.

"Eu não saberia especificamente qual, mas pode ser um país desenvolvido, pode ser qualquer um dos países europeus, se você é um país em desenvolvimento e quer investir seu dinheiro com segurança, os títulos da dívida pública dos EUA continuam sendo um dos títulos mais seguros do mundo", explicou ele.

Barfield não acredita que qualquer coisa que os chineses façam tenha um impacto de longo prazo na decisão de investir em títulos dos EUA. Além disso, o economista duvida que os EUA e a China cheguem a um acordo sobre a guerra comercial no futuro próximo, ou seja, a disputa vai escalar ainda mais.

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A China e os EUA estão num impasse há quase um ano, desde que a guerra comercial começou em 2018. O conflito piorou quando, no início de maio, o governo Trump acusou Pequim de renegar os compromissos de fazer mudanças estruturais em suas práticas econômicas.

Washington impôs tarifas adicionais de até 25% sobre bens chineses no valor de 200 bilhões de dólares, o que levou Pequim a reagir com mais impostos sobre a maioria das importações norte-americanas em uma lista avaliada em 60 bilhões de dólares. As tarifas de retaliação da China devem entrar em vigor em 1º de junho.

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