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Esse filme já foi rodado no Brasil: analista sobre agenda econômica de Bolsonaro

No decorrer da campanha eleitoral, Jair Bolsonaro propôs um abrangente programa de reformas econômicas, prometendo tirar o país da crise. Porém, passado o primeiro trimestre do novo governo no poder, as previsões econômicas para o Brasil estão longe de serem positivas.
Sputnik

Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor do Instituto de Economia da UNICAMP, Mariano Francisco Laplane, comentou o desempenho do governo de Jair Bolsonaro na economia brasileira, avaliando os desafios e prováveis resultados dos mesmos.

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De acordo com ele, durante a campanha eleitoral, Bolsonaro conseguiu "vender a imagem" de que saberia como recuperar a economia nacional.

"A eleição de Jair Bolsonaro tinha sido, em parte, resultado da promessa que ele fez de fazer a economia crescer muito, e muito rápido, sair da crise. Ele conseguiu vender essa imagem de que saberia tirar a economia da crise."

O economista reforçou que, embora ainda seja muito cedo para julgar os resultados da influência do novo governo sobre a economia, o desempenho de até agora "é muito frustrante", justificando que os dados preliminares do primeiro trimestre do governo Bolsonaro mostram que os sinais fracos de recuperação reverteram.

Vale recordar que, recentemente, economistas de instituições financeiras estimaram uma alta do PIB brasileiro inferior a marca de 2%. A queda na previsão de crescimento acompanhou uma tendência observada nos últimos boletins, realizados pelo Banco Central semanalmente.

O analista comentou as iniciativas econômicas do governo, destacando a agenda de privatizações, reforma da Previdência e diminuição de controle do Estado sobre a atividade econômica.

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"Se é isso o que é preciso para a economia crescer, então vai demorar [...] não é uma coisa que se possa fazer muito rápido. A reforma da Previdência é uma coisa que depende de longos processos de negociações e debates no Congresso. A venda de ativos públicos, se você for fazer uma venda inteligente, uma venda planejada, que traga recursos, isso também demora um tempo", disse.

Porém, segundo Laplane, o problema não é o tempo. Ele acredita que os desafios econômicos do Brasil "não vão se resolver com o tempo", justamente por falta desse tempo.

"Primeiro, eu acho que [...] [o governo] não tem esse tempo, porque nós estamos no quinto ano já, se você começar a contar desde 2014 estamos no quinto ano de crise econômica, com um custo social muito alto", enfatizou, recordando que no momento o Brasil está com 13 milhões de desempregados, com problemas de sobrevivência, além de lidar com problemas de infraestrutura que requerem investimento agora.

O economista apontou que as mudanças previstas pelo governo Bolsonaro já foram experimentadas no país nos anos 90, mas acabaram falhando.

"Todas essas reformas, todas essas mudanças que o governo quer fazer, e que supostamente poderiam trazer a recuperação econômica, já foram testadas uma vez. Esse é um programa econômico que o Brasil já experimentou nos anos 90. Os resultados do ponto de vista de crescimento foram pífios. Então, é um filme que eu já assisti, eu sei como acaba. Eu não preciso esperar e ter um tempo para verificar os resultados para saber como vai acabar [...] foi uma enorme frustração, foi instabilidade econômica e baixíssimo crescimento", indicou.

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O analista reforçou que alguns dos fatores e condições favoráveis que existiam nos anos 90, hoje não existem mais. Por exemplo, nos anos 90, apontou, existia um movimento de liberdade comercial, de abertura comercial, no mundo inteiro, já que hoje em dia o mundo vive guerras comerciais, há países aplicando sanções, que são aplicadas "para cá e para lá", fazendo com que o comércio já não esteja no caminho da liberalização.

"Hoje nós estamos a caminho de um regime de comércio internacional muito mais administrado, regulado. Então, as condições não melhoraram para que esta agenda econômica do governo Bolsonaro, a agenda econômica do ministério dele, se justifiquem. Estas condições se deterioraram internacionalmente. Já não deu muito crescimento como resultado nos anos 90, hoje eu acho que dará muito menos", ressaltou.

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