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'Política de Estado é o extermínio': Maior chacina da história do RJ completa 14 anos

Policiais militares mataram a tiros 29 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados na noite de 31 de março de 2005. Os matadores dispararam contra quem encontraram na rua, vitimando pessoas aleatoriamente. A cada ano, a Baixada Fluminense lembra das vítimas e faz uma caminhada para lembrar que seus mortos têm voz.
Sputnik

O episódio ficou conhecido como Chacina da Baixada e é a maior matança da história do Rio de Janeiro. O caso teve repercussão nacional e internacional. Como resposta, ativistas e grupos de direitos humanos realizam desde 2006 atos pela memória os mortos.

Segundo reportagem do jornal O Globo, a chacina seria uma resposta a decisão do comando do 15º BPM (Caxias) de prender mais de 60 policiais por desvio de conduta. Dias antes do crime, corpos sem cabeça foram jogados nos fundos do batalhão.

Uma das peças-chave para a investigação do crime, o PM Gilmar da Silva Simão, foi morto com 15 tiros após depor e tentar negociar uma delação premiada. Ele teria informações para ligar policiais com a máfia dos caça-níqueis.

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Luciene Silva perdeu um filho na chacina e transformou seu luto em luta. Hoje ela é assistente social, faz pós-graduação em gestão e políticas sociais e é representante da Rede de Mães e Familiares da Baixada Fluminense. "A violência e os absurdos que acontecem na Baixada são esquecidos. Na verdade, são invisibilizados", diz à Sputnik Brasil.

Luciene diz que a violência no Brasil tem alvo preferencial: os negros, pobres e moradores de regiões periféricas e de comunidades. "A política de Estado hoje é uma política de extermínio, é uma política de controle de população. Essa população matável é a população negra e pobre, de periferia."

Segundo a ativista, hoje a Baixada é uma região dominada por grupos milicianos. "A milícia controla praticamente toda a Baixada Fluminense. E em muitos territórios temos milícia e tráfico, e eles estão se aliando, se unindo. E a população fica no meio disso".
A assistente social denuncia que os casos de desaparecimento na Baixada estão explodindo já que os grupos criminosos "agora sabem que sem corpo não há crime".

Segundo Luciene, enquanto as mães da região vão "trabalhar na casa das madames" no Rio de Janeiro, o tráfico de drogas e a milícia "adota" os jovens.

"O tráfico paga R$ 300 por semana para você ficar com um rádio. Onde você consegue isso? São R$ 1.200 por mês. E o salário mínimo nesse país é de R$ 998."

A Baixada Fluminense tem a cidade mais violenta do Brasil, segundo o Atlas da Violência de 2018. Japeri registra 134,9 mortes violentas para cada 100 mil habitantes. Caso o município fosse um país, seria o mais violento do mundo, na frente de El Salvador (com uma taxa de homicídios de 83 casos para 100 mil habitantes).

Levantamento do Observatório da Intervenção mostrou que o bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro, registrou uma taxa de 4,2 homicídios por 100 mil habitantes entre fevereiro e junho de 2018.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que taxas superiores a 10 homicídios para 100 mil habitantes são de violência epidêmica.
Sobre a ideologia do "bandido bom é bandido morto" e da tentativa de combater a violência com a violência, Luciene ressalta que seus defensores precisam entender que também podem ser vítimas.

"Se você aceita que a polícia pode matar quem ela quiser, você também tem que aceitar quando ela matar um dos seus. Porque é muito fácil falar isso quando a violência não chega na sua casa, na sua porta e na sua família. Quando você sente na carne, você não pensa igual".

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