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Por que adesão do Brasil à OTAN é quase impossível?

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse considerar a entrada do Brasil na OTAN. Entretanto, o cientista político russo Gevorg Mirzayan duvida que a adesão do Brasil à OTAN seja possível no futuro próximo.
Sputnik

Após a reunião entre o presidente brasileiro Jair Bolsonaro e seu homólogo estadunidense Donald Trump, realizada no âmbito da visita oficial de Bolsonaro aos EUA, o presidente dos EUA disse considerar a entrada do Brasil na OTAN.

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"Eu disse ao presidente Bolsonaro que também pretendo indicar o Brasil como aliado principal extra-OTAN, ou até mesmo começar a cogitar como membro da OTAN. Eu tenho que conversar com muita gente, mas talvez se tornar membro da OTAN fosse um grande avanço para a segurança e cooperação entre os nossos países", declarou Trump.

Essa declaração do presidente americano causou grande polêmica entre os especialistas. Entretanto, em seu artigo para a revista russa Expert, o cientista político Gevorg Mirzayan explicou porque a entrada do Brasil na OTAN é pouco provável.

"O Brasil possivelmente poderia ter entrado na aliança como ela era nos anos 90 e na década seguinte, mas ele não tem cabimento na aliança na sua forma atual, que já não representa a fórmula 'os EUA e 28 vassalos', mas sim uma estrutura bem mais complexa", explicou Mirzayan.

O analista sublinha que a aliança ainda tem potencial para alargamento – por exemplo, na OTAN poderiam entrar os países da ex-Iugoslávia que não aderiram à OTAN, possivelmente também a Áustria, a Suécia e a Finlândia. Essas seriam as últimas possibilidades de expansão para a OTAN.

Mirzayan lembrou que países da antiga União Soviética como a Bielorrússia ou Armênia são aliados próximos da Rússia, por isso não planejam aderir à OTAN.

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"A Ucrânia, Geórgia e Moldávia mantêm disputas territoriais das quais, direta ou indiretamente, participa a Rússia. A adesão desses países [à OTAN] poderia causar uma guerra de grande escala com a Rússia", explicou ele.

Quanto à expansão da OTAN para a África do Norte, o analista sublinha que o artigo 10 do tratado de fundação da aliança prevê o alargamento da OTAN apenas a países europeus. Além disso, os países europeus se manifestariam contra a concessão de garantias políticas e militares aos governos instáveis dos países da África do Norte.

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Segundo Mirzayan, esse alargamento estaria de acordo com os interesses dos EUA. "Por exemplo, uma aliança político-militar com o Brasil ajudaria os EUA a vencer a esquerda na América Latina, a combater o aumento da influência chinesa na região, bem como a transformar o território a sul do Rio Grande em um “quintal seguro para os EUA", explicou ele.

Entretanto, a Europa poderia ser contra a adesão do Brasil à OTAN. “Já passou o tempo em que a Europa obedecia sem hesitação aos EUA e quando a OTAN era considerada uma organização americana de gerenciamento dos processos globais”, declarou o analista.

Mirzayan sublinhou que hoje em dia a Europa tem peso na organização e seu objetivo principal é garantir sua própria segurança em vez de participar dos projetos externos globais dos EUA. Especialmente com os países da América do Sul, que não têm com ela laços econômicos e políticos necessários e importantes (exceto Portugal e Espanha).

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É por isso que os países europeus provavelmente bloqueariam o alargamento da OTAN ao Brasil. O analista disse que os europeus têm muitas oportunidades para fazê-lo. Primeiro, o artigo 10 do tratado de fundação da aliança. Segundo, a Europa poderia declarar que o Brasil ainda tem disputas territoriais com o Uruguai e a Bolívia. Finalmente, não há motivo para a Europa aceder aos desejos de Donald Trump que, segundo o ex-representante dos EUA na OTAN Douglas Lute, é "o presidente americano mais incoerente e imprevisível, no que se refere à sua fidelidade à OTAN, nos últimos 70 anos".

O cientista político sublinhou que se os EUA apresentarem de novo tais iniciativas voluntaristas e unilaterais ligadas à aliança, o Velho Continente vai continuar fortalecendo suas instituições de segurança alternativas, causando ainda mais divisão nas relações transatlânticas.

O presidente brasileiro realizou uma visita oficial de três dias aos EUA. Jair Bolsonaro assinou alguns acordos que aprofundam a cooperação entre os dois países. Na reunião com seu homólogo norte-americano na terça-feira (19), foram discutidos assuntos internacionais, entre eles a cooperação comercial bilateral, a crise na Venezuela e o fortalecimento das relações entre Washington e Brasília.

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