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Analista: adesão do Brasil à OTAN pode 'minar aspirações de paz' na América Latina

A porta-voz da chancelaria francesa, Agnès von der Muhll, reagiu ao "convite" de Donald Trump para o Brasil entrar na OTAN. De acordo com ela, a "OTAN é uma aliança de nações ligadas por uma cláusula de defesa coletiva, cujo tratado, assinado em 4 de abril de 1949, define o escopo geográfico de sua aplicação".
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Porém, ela assinalou que o Brasil pode firmar um tratado de parceria com o bloco.

Em entrevista à Sputnik França, Maurice Lemoine, ex-editor-chefe do jornal Le Monde Diplomatique e especialista em assuntos da América Latina, comentou a situação.

"Existe uma proximidade ideológica evidente [entre Donald Trump e] a direita colombiana de [Alvaro] Uribe, de [Juan Manuel] Santos e agora de Duque [Marquez], e com o presidente Jair Bolsonaro no Brasil", apontou.

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Ele recordou que em 2008 e em 2011 na América Latina foram criadas alianças que não incluíam os Estados Unidos.

"Precisamos recordar que os governos 'progressistas' – a Venezuela de [Hugo] Chávez, o Equador de [Rafael] Correa, a Argentina de [Cristina] Kirchner ou a Bolívia de [Evo] Morales – criaram a União de Nações Sul-Americanas [Unasur], sem os EUA, em 2008, depois a CELAC [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], que inclui todos os países do continente menos os EUA e o Canadá, em 2011."

Porém, o jornalista acredita que a América Latina está perdendo os avanços dos últimos anos, se aproximando novamente dos EUA.

"Em 2011, os governos 'progressistas' declararam o continente americano como 'zona de paz'. Eles o fizeram junto com países [onde no poder estavam partidos] de direita. Havia uma vontade de integração para além das divergências ideológicas. Evidentemente, fazendo entrar o Brasil e a Colômbia na OTAN se está a minar as aspirações de paz", disse.

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De acordo com Maurice Lemoine, os países latino-americanos passaram a compartilhar uma visão do mundo obsoleta e simplificada.

"Os EUA e os setores conservadores latino-americanos estão regressando à Guerra Fria entre os adversários nomeados, China, Rússia, Irã e Venezuela, e o 'campo do bem'", indicou o jornalista.

Ele opinou por que o governo francês reagiu de forma tão rápida e com uma sinceridade incomum em diplomacia.

"Não ouvi Emmanuel Macron se expressar quando a Colômbia virou membro associado da OTAN. Mas agora ele acordou de repente muito simplesmente porque a amizade com forças que não são progressistas lhe pode trazer problemas", ressaltou Lemoine.

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