Ajuda humanitária à Venezuela: gesto de boa fé ou demonstração de poder?

O jornalista argentino Pedro Brieger analisou na entrevista à Sputnik Mundo o fenômeno da ajuda humanitária dos EUA e do Canadá à Venezuela, que "é baseada em uma demonstração de poder" e representa um cenário perigoso para a Venezuela.
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Em 4 de fevereiro, o Grupo de Lima pediu às Forças Armadas da Venezuela que permitissem a entrada e distribuição de ajuda humanitária, que seria entregue à oposição venezuelana. Nicolás Maduro, por sua vez, rejeitou as declarações do Grupo e reafirmou sua posição em defesa da soberania.

Brieger explicou à Sputnik Mundo que "na Venezuela, a oposição oferece ajuda humanitária não só por causa das necessidades da população, mas também para poder usá-las como demonstração de poder e dar a Juan Guaidó as características de um governo". Na Venezuela as fronteiras são controladas pelo Exército venezuelano, enquanto países vizinhos como a Colômbia e o Brasil defendem a "ajuda" da oposição.

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Há pouco, o presidente colombiano, Ivan Duque, confirmou que seria criada na Colômbia uma instalação para coletar ajuda humanitária para a Venezuela. Os planos de criar tal instalação na cidade de Cúcuta, para coordenação logística da ajuda humanitária, foram denunciados depois que o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó expressou a necessidade de "assistência internacional imediata".

Segundo Brieger, por trás deste gesto de boa fé há uma demonstração de poder. "Se a questão fosse realmente ajuda humanitária, deveria ser tratada entre as Nações Unidas e o governo venezuelano, mas aqui se trata de uma manobra política que pode ser complicada se [a ajuda] entrar a partir do Brasil ou da Colômbia", insistiu o especialista.

Encontro em Montevidéu busca a paz?

Enquanto a pressão se mantém no Caribe, Montevidéu prepara-se para sediar uma reunião no dia 7 de fevereiro entre os países que defendem uma solução diplomática. Entre os participantes estão tais países da UE como a Alemanha, Espanha, França, Itália, Portugal, Holanda, Reino Unido e Suécia, além do México, Bolívia, Costa Rica, Equador e Uruguai.

Vale destacar que, para o jornalista, é difícil prever o que acontecerá nesta reunião "porque hoje o contexto da ofensiva política para derrubar o governo de Maduro é minoritário na América Latina".

"Uma solução diplomática evitaria uma guerra civil, já que os antecedentes mais recentes de formação de governos paralelos levaram a guerras, como a Líbia e a Síria. Então, governos de países como o México e o Uruguai têm consciência de que uma maior polarização e até a entrega de ajuda humanitária à Venezuela pelos Estados Unidos (e não pela ONU) contribui para a exacerbação da política interna e regional da Venezuela ", disse o especialista.

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Além disso, Brieger ressaltou que a oposição venezuelana não quer nenhum tipo de diálogo com o governo e, por isso, se sente apoiada pelo Grupo de Lima, EUA, e pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro. No entanto, Brieger destacou que o problema da cúpula de Montevidéu é que não é um grupo formal.

"O Grupo de Lima pode realizar uma pressão muito forte, pois é formado por vários dos países mais importantes da região, como a Argentina, Brasil, Colômbia, entre outros, enquanto a reunião em Montevidéu não depende de nenhum órgão reconhecido com capacidade de decidir políticas, como as Nações Unidas ", explicou.

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Briedger explicou também que a dificuldade da exigência quanto a novas eleições presidenciais tem a ver com o fato de o governo de Maduro defender que houve eleições no ano passado e que eles ganharam, mas a oposição não reconhece a legitimidade e pede para organizar novas eleições com regras mais "favoráveis".

O especialista conclui que é claro que o governo venezuelano não aceitará tais condições e que a exigência da oposição é arriscada porque exige eleições livres com a certeza de vencer, mas pode perdê-las por subestimar o poder de mobilização que o chavismo tem.

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