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Embargo saudita a frango brasileiro é 'aviso' a Bolsonaro, diz especialista

Maior destino das exportações de frango, a Arábia Saudita barrou a compra 5 frigoríficos brasileiros. Critérios técnicos são apontados como o motivo, mas o episódio envolve a política externa de Jair Bolsonaro (PSL). A Sputnik Brasil entrevistou Danny Zahredinne, professor da PUC-MG e especialista em Oriente Médio, para entender o episódio.
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Para ele, a decisão saudita é uma "resposta natural e esperada" à postura de Bolsonaro em relação à capital de Israel. O presidente pretende seguir os passos dos Estados Unidos e transferir a embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, cidade que árabes e judeus reclamam como sua capital.

Antes da posse como presidente de Bolsonaro, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, encontrou-se com o político do PSL no Rio de Janeiro. Na ocasião, Netanyahu disse que a mudança era apenas uma questão de data.

Zahredinne diz que a postura de Bolsonaro em relação a Jerusalém "beira o absurdo" e "com certeza" trará impactos no relacionamento com o Oriente Médio.

"Como Bolsonaro, antes mesmo de assumir, promete a um primeiro-ministro que vai mudar uma capital que é garantida a palestinos e israelenses pelo direito internacional? Como isso não vai repercutir negativamente? A política internacional é muito realista, muito dura. O jogo é jogado de uma maneira que principiantes não se saem bem."

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Em 2018, a Arábia Saudita comprou US$ 809 milhões em frango brasileiro — o maior mercado do Oriente Médio.

Apesar da Associação Brasileira de Proteína Animal ter publicado uma nota em que diz a ação foi tomada por "critérios técnicos", o caráter político da decisão saudita foi confirmado pelo ex-secretário-geral da Liga Árabe. Em entrevista ao Valor, Amre Moussa disse a transferência da embaixada em Israel "fere a imagem internacional do Brasil" e que o governo brasileiro não deveria "alienar" 300 milhões de pessoas.

"O povo árabe é um amigo natural do Brasil. Não percam a amizade do povo árabe", disse Moussa ao Valor.

Para o professor da PUC-MG entrevistado pela Sputnik Brasil, o verniz técnico foi utilizado para justificar a medida por uma questão de diplomacia — e tem o objetivo de fazer Brasília repensar sua postura e atuar como espécie de "aviso". Ele ressalta que a medida saudita pode ser seguida por países do próximos a Riad, como Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito.

A própria ministra da Agricultura de Bolsonaro, Tereza Cristina, já afirmou que a possível mudança da embaixada deixa o setor agrícola "preocupado".

A bancada do agronegócio é próxima de Bolsonaro e declarou apoio ao político, por meio da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), antes do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Á época, Tereza Cristina era presidente da entidade. 

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Especialisita em Oriente Médio, Zahredinne também destaca que a fala de Mourão nesta quarta-feira (23) de que o Brasil irá manter a representação diplomática da Palestina já indica uma "reação ao tamanho do impacto que isso [transferência da embaixada] pode ter sobre nós".

Durante a campanha presidencial, Bolsonaro prometeu retirar a embaixada palestina do Brasil.

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