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Analistas comparam planos de governo de Bolsonaro e Haddad para a economia

Enquanto os presidenciáveis não debatem para esclarecer suas propostas, a Sputnik Brasil ouviu a opinião de especialistas sobre importantes pontos dos planos de governo dos dois candidatos que disputam hoje a presidência da República.
Sputnik

Em meio a polêmicas, acusações de diversos tipos e suspeitas de crime eleitoral, Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), e Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), chegam à reta final de campanha encarnando figuras quase opostas no imaginário político, mas com muitas promessas semelhantes aos eleitores, deixando muitos deles confusos sobre quem teria o melhor plano para governar o país ao longo dos próximos quatro anos. 

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Enquanto o petista tenta se aproveitar em parte da popularidade de seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou o Brasil por oito anos e gozou de grande reconhecimento interno e internacional por uma série de conquistas sociais, avanços econômicos e ganhos diplomáticos, ao mesmo tempo se vê frequentemente forçado a se defender de críticas relacionadas a escândalos de corrupção envolvendo o seu partido, que muitos acusam de ter levado a nação a uma profunda crise financeira, institucional e política. Bolsonaro, por sua vez, com posicionamentos radicais, à direita, se apresenta, há quase 30 anos, como um político não tradicional capaz de responder aos anseios de uma grande parcela conservadora da população. 

Haddad, ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, é visto, em geral, no cenário externo, como um democrata progressista. Mas, internamente, sua filiação ao Partido dos Trabalhadores e o fato de sua candidatura só ter sido efetivada em razão da impossibilidade de Lula concorrer são fatores que pesam contra ele de acordo com o raciocínio de vários eleitores. Já Bolsonaro, militar da reserva e deputado federal desde 1991 pelo Rio de Janeiro, tem em seu carisma e em sua postura firme suas principais armas. Amado por muitos e odiado por muitos outros, é o favorito, segundo as pesquisas, para vencer o pleito, mas, devido a posições e declarações polêmicas do passado e também da atualidade, é apontado com frequência como uma ameaça ao jogo democrático, apesar de seu evidente apoio popular. 

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A apenas dez dias do segundo turno da eleição presidencial, por conta da falta de um debate, de muitas informações incorretas espalhadas pela Internet e do grande tempo dedicado pelas chapas concorrentes a ataques pessoais e tentativas de defesa, as dúvidas sobre os planos dos dois para o país ainda têm tirado o sono de muita gente. Com o objetivo de esclarecer a essência das propostas, a Sputnik Brasil conversou com dois especialistas da área econômica: Juliana Inhasz, professora da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), e Mauro Rochlin, professor de economia dos cursos de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV). 

De acordo com a economista da FECAP, embora os dois candidatos à presidência tenham objetivos parecidos e óbvios de combater a crise e fazer a economia voltar a crescer, eles apresentam propostas muito diferentes para alcançar essas metas. Enquanto Bolsonaro, segundo ela, demonstra um projeto mais arrojado, com uma política reformista, com a diminuição do setor público e aumento do setor privado na economia, como já vem acontecendo ao longo dos últimos anos, Haddad, por outro lado, propõe uma espécie de plano emergencial focado em maior participação estatal, transferência de renda, mais salários e mais demandas. O primeiro, para ela, teria uma aplicabilidade maior para o longo prazo, enquanto o outro estaria mais preocupado, a princípio, com o curto prazo. 

"O governo de Jair Bolsonaro, em caso de vitória, deve ser um governo mais reformista, numa continuação aos ajustes que já começaram há algum tempo. E no caso do Fernando Haddad, um governo que vai tentar primeiro crescer, num primeiro momento, mas não tem grandes perspectivas" para um crescimento sustentável no longo prazo, afirma Inhasz. 

Para a especialista, no que diz respeito à reativação do comércio exterior, o candidato do PSL parece compreender que o Brasil é um país extremamente fechado e aposta em uma abertura comercial, com redução de alíquotas ao longo do tempo, enquanto o petista demonstra preocupação com uma integração maior com países de um mesmo alinhamento do Brasil, países emergentes, como os membros do BRICS, a fim de conter uma hegemonia dos Estados Unidos.

"Ambos enxergam uma necessidade de reativar o comércio exterior do Brasil com o resto do mundo, mas eles enxergam parceiros, aparentemente, bem diferentes."

O professor Mauro Rochlin acredita que tanto o programa do PSL como o do PT são pouco específicos em relação a alguns temas da economia. Mas, segundo ele, as propostas gerais já deixam claras as grandes diferenças entre as duas propostas. Assim como Inhasz, ele destaca o interesse evidente de Bolsonaro e sua equipe pela redução do papel do Estado na economia, ao contrário dos petistas, que defendem exatamente o oposto. 

Para o analista da FGV, não existe uma resposta que contenha a verdade absoluta sobre a melhor receita para tirar o país da crise em que se encontra. Ele sublinha que ao mesmo tempo em que os liberais ligados a Bolsonaro entendem que o dinamismo da iniciativa privada seria capaz de promover um crescimento a um ritmo mais rápido e maior eficiência na alocação de recursos, há também, do outro lado, especialistas convictos de que, principalmente diante de crises, a presença do Estado se torna fundamental, com o gasto público, por exemplo, representando uma mola propulsora para o crescimento. 

"A gente tem aí duas correntes de pensamento fortemente enraizadas na área acadêmica, na área intelectual. Fica difícil dizer que a verdade está com um dos dois lados."

Rochlin explica que, do ponto de vista do futuro ministro da Fazenda em um eventual governo de Jair Bolsonaro, é possível dizer que um governo do PSL teria como uma das principais preocupações inserir o Brasil nas cadeias globais de valor, dando bastante atenção às multinacionais e tentando atrair cada vez mais o interesse dessas empresas para a produção local. Em termos territoriais, Estados Unidos e Europa seriam os parceiros naturais do país. Já em um governo de Fernando Haddad, as propostas buscariam maior integração regional, maior diálogo com economias emergentes e interesses em participar da regulação do comércio internacional, entre outras coisas.

 

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