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#Eleições2018: pastor de esquerda e gay de direita contam o motivo de seus votos

Todos os religiosos são conservadores? As minorias só votam na esquerda? Existe política fora das bolhas criadas pelas redes sociais? Acompanhe na reportagem da Sputnik Brasil casos de que existe vida fora da polarização nas eleições e quem é o eleitor brasileiro.
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Filho de um militar e uma enfermeira, o paulistano Smith Heys se descreve como um "gay de direita" e causou surpresa quando escolheu seu candidato para as eleições deste ano:

"Quando eu comecei a apoiar [Jair] Bolsonaro, muitos gays não me entenderam. Diziam ‘como você apoia esse cara que quer te matar?'. Acho que a reação espontânea da pessoa é ficar agressiva. Com o tempo, eu fui lidando e discutindo".

O engenheiro de 30 anos disse que também houve gente que disse que ele estava "ficando biruta e com síndrome de Estocolmo" e também aqueles que concordaram com sua posição. Ele foi percebendo que no jogo político, qualquer pessoa pode concordar ou discordar.

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Ainda assim, ele afirma que já foi alvo de diversas ameaças de morte na internet.

"Eu nunca me neguei a conversar com quem tem vontade, mas a maioria vem xingando. E eu não tenho sangue de barata e xingo de volta, a civilidade tem que ser mútua."

O despertar político de Heys aconteceu em junho de 2013, durante as manifestações que varreram o Brasil. Antes disso, ele não votou em nenhuma eleição porque entendia que todos os políticos eram "farinha do mesmo saco". A situação mudou de figura quando ele viu a então presidente Dilma Rousseff (PT) falar em convocar um plebiscito constituinte. "Aí pensei ‘pô, tem alguma sacanagem aí, ninguém está pedindo constituinte'. E daí fui desenrolando"

Heys entrou na leitura de autores que falam sobre política com Olavo de Carvalho e hoje se diz leitor de São Tomás de Aquino, Edward Burke e Ludwig von Mises.

Ele também passou a publicar vídeos com suas análises de conjuntura no Facebook em que costuma criticar "a ideologia abortista", o ex-presidente Lula e a situação política na Venezuela.

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Um de seus vídeos em defesa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ) viralizou e ele foi reconhecido pelo próprio deputado federal durante uma manifestação pelo impeachment de Dilma, em São Paulo. O encontro rendeu um convite para que Heys acompanhasse Bolsonaro a uma entrevista. Na ocasião, os dois conversaram e Heys disse que pode entender as declarações homofóbicas do capitão do Exército:

"O que ele me falou foi seguinte: ‘antes eu confundia o cidadão homossexual com a militância esquerdista, que quer impor ideologia de gênero'. Então ele tinha isso dentro da cabeça dele, que todo gay era necessariamente daquele jeito, uma generalização. Ele me disse ‘você me ajudou a quebrar isso' e que se arrependia porque sabia que existiam homossexuais decentes. É até uma inocência da parte dele. Como ele sempre fala, todo mundo pode evoluir, e nesse ponto ele evoluiu muito."

Heys foi procurado pelo diretório do PSL de São Paulo e hoje é candidato a deputado estadual pelo mesmo partido de Bolsonaro. Já quando ele vai escolher seus votos, diz que procura "quem coloca os interesses do país acima dos interesses partidários e externos. Que zele pela integridade do país, pela segurança. Na minha visão, esse é o papel do Estado."

"É preciso propor diálogo a partir das diferenças"

Do outro lado da salada ideológica brasileira, o pastor e professor Henrique Vieira prefere escolher seu voto por outros motivos. Seus candidatos são os que escolhem o "combate à desigualdade social, os privilégios estabelecidos na sociedade brasileira. Esse é um parâmetro muito importante na minha formação. Eu não naturalizo a fome, a miséria e a concentração de renda". Vieira também diz que não acredita na proposta de um "Estado mínimo".

"Eu entendo que a construção de um Brasil mais justo passa por um combate ao machismo, racismo e a lgbtfobia e todas as formas de preconceito e discriminação."

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Aos 31 anos, Vieira é nascido e criado em Niterói e foi aluno do hoje deputado estadual Marcelo Freixo (Psol). Seu pai trabalhava como alfaiate e a mãe como professora da rede estadual de ensino infantil. Desde a adolescência, Vieira é próximo de movimentos de direitos humanos e chegou a ser vereador de sua cidade natal pelo Psol entre 2012 e 2016.

Ele acredita que o momento de polarização que o Brasil atravessa é marcado pela "criminalização da oposição", que dificulta qualquer diálogo "porque elimina a diferença". Para Vieira, que também é ator, os rótulos de coxinha e mortadela que existem no cenário político não servem à democracia já que é necessário "não rotular quem pensa diferente".

"É preciso propor diálogo a partir das diferenças. Quem defende um país democrático e popular, tem que apostar nesse trabalho. Não um trabalho de base civilizatório, colonizador, que diz ‘vamos lá levar o futuro'. Mas que quer construir juntos, amadurecer juntos."

Sua posição de líder religioso de esquerda desafia o senso comum acostumado a figuras como os deputados federais Marco Feliciano (Podemos-SP) e Silas Malafaia — famosos apoiadores e cabos eleitorais de Bolsonaro. Vieira defende que é uma contradição ser cristão e votar em Bolsonaro:

"Dentro de minha perspectiva de cristianismo, é uma contradição. Jesus andou com os oprimidos, andou com os maltratados, Bolsonaro diz que o trabalhador tem que decidir entre emprego e direitos. Jesus venceu preconceitos e acolheu pessoas de religiões diferentes, de povos diferentes, Bolsonaro vive alimentando uma lógica de desrespeito à diversidade. Jesus impediu processos de execução, Bolsonaro diz que bandido bom é bandido morto."

147 milhões de eleitores

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O Brasil tem 147.302.357 eleitores aptos para votar nas eleições de outubro. As mulheres são 53% do eleitorado (77,3 milhões), contra 47,5% de homens (69,9 milhões).

Os Estados que são os maiores colégios eleitorais são São Paulo (33 milhões), Minas Gerais (15 milhões) e Rio de Janeiro (12 milhões).

Já no quesito escolaridade, o nível mais comum é o de ensino fundamental incompleto (25.84%), seguido por ensino médio completo (22.86%), ensino médio incompleto (16.88%) e superior completo (9,22%).

Na faixa etária, 11% têm entre 35 a 39 anos, 10,79% têm de 30 a 34 anos e 10,36% têm 25 a 29 anos.

Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para os brasileiros, os principais problemas do país são: desemprego (56%), corrupção (55%), saúde (47%) e segurança pública (38%). O levantamento foi feito pela Confederação Nacional da Indústria em 2017.

Já na hora de escolher o futuro presidente, o brasileiro apontou como características importantes ser honesto e não mentir em campanha (87%), nunca ter se envolvido em casos de corrupção (84%) e transmitir confiança (82%). Já nas características profissionais e experiência, os pontos mais importantes foram: conhecer os problemas do país (89%), ter experiência em assuntos econômicos (77%), ter boa formação educacional (74%) e ter uma boa relação com os movimentos sociais (71%). Mais uma vez, a pesquisa é da CNI.

O eleitorado, contudo, não é estático. Na comparação com os brasileiros que participaram da última eleição presidencial, a população envelheceu e a participação feminina aumentou de 51% para 53%.

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O cientista político e professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB), David Fleischer, não acredita que essa mudança significa que mais mulheres serão eleitas:

"O Brasil é uma sociedade muito machista. Os homens têm muito mais poder tanto na economia quanto na política. E nós temos menos candidatas mulheres. Não temos um sistema de cotas, como na Argentina, com lista fechada. Infelizmente o nosso sistema eleitoral é proporcional, com lista aberta. Então a tendência de 98% do eleitorado é o voto nominal, votar em um nome. Segundo a lei, os partidos precisam ter pelo menos 30% de mulheres nas listas. Muitas vezes, no entanto, muitos nomes são colocados só para constar."

Os 147 milhões de eleitores brasileiros irão escolher seus representantes em 7 de outubro.

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