O que a desconhecida Síria tem a oferecer aos visitantes (FOTOS)

Nos últimos anos, a Síria vem sendo associada a confrontos militares, ao combate ao terrorismo e a povoados destruídos. Filha de um sírio e uma russa, Zhaklin, de 26 anos de idade, voltou ao país árabe após 3,5 anos desde última viagem e partilhou com a Sputnik suas impressões, tanto tristes como alegres, sobre o que viu.
Sputnik

A jovem que mora basicamente em dois países, na Rússia e na Síria, passava no país árabe todas as férias de verão na época da escola e universidade. Porém, quando começou a trabalhar e com o início da guerra, ficou mais difícil visitar tão frequentemente sua segunda pátria, onde vivem seus pais.

Passados 3,5 anos desde sua última viagem em 2014, ela voltou à Síria neste verão para matar as saudades.

Zhaklin

A jovem descreve em primeiro lugar o caminho de Damasco a Latakia. Zhaklin diz que esperava ver os arredores e parte da cidade arruinada, mas a realidade acabou sendo ainda pior: enquanto o centro da cidade estava como antes, nos subúrbios "quarteirões inteiros foram exterminados da face da Terra", conta a jovem.

No entanto, logo que termina o deserto e começa o clima mediterrâneo a situação muda. Dá para ver que quase nada foi danificado e a tranquilamente é sentida em todos os lados, acrescentou.

"Ao ver como meu país mudou, lágrimas surgiam nos olhos. Estas lágrimas são causadas por uma sensação muito confusa. Por um lado, são lágrimas de tristeza, por outro lado — de alegria porque ao menos em Latakia tudo acabou […]", desabafou Zhaklin em entrevista à Sputnik Mundo.

Outra Síria

As pessoas conhecem apenas a Síria em guerra, mas, frisa Zhaklin, há outra Síria: em Latakia estão reservados todos os hotéis até o fim do verão. A garota enfatiza que se antes turistas vinham visitar a Síria de países do golfo Pérsico, agora os locais também viajam pelo país.

Costa mediterrânea da Síria

Zhaklin ressalta as numerosas paisagens montanhosas, as lindas praias perto de Latakia e castelos antigos, como a Fortaleza de Saladino, que desde 2006 é considerada patrimônio mundial da UNESCO, fazendo parte da época das Cruzadas.

Fortaleza de Saladino, perto de Latakia

A garota reforça que a Síria continua sendo um país acessível a turistas e acredita que a nação poderá ocupar lugar do Egito e da Turquia — locais mais visitados por russos durante férias.

"Acho que em cinco ou sete anos, se a guerra terminar, a Síria se tornará um paraíso para turistas russos e não só", opinou, acrescentando que empresas russas já firmaram muitos acordos para construir hotéis na Síria.

"Aqui tem um mar maravilhoso, muitos lugares históricos, comida gostosíssima e pessoas que sinceramente gostam dos russos."

Como outro sinal que a vida está voltando ao normal Zhaklin lembrou que um dia ela e seu marido chegaram de madrugada a um restaurante e este estava lotado.

"Mulheres estavam sentadas sozinhas, tanto com cabeças cobertas como sem lenços […] às 4 da madrugada, fumando narguilé […] A vida está voltando de verdade e isso traz alegria", falou.

Outros sírios

Como se sabe a guerra muda muito e as pessoas também. Será que o caráter dos sírios mudou após anos conflituosos?

Castelo de Margat, uma fortificação localizada perto da cidade de Baniyas, perto de Latakia. Foi fortificado pela primeira vez em 1603 pelos muçulmanos e depois serviu como um dos bastiões principais dos Cavaleiros Hospitalários.

Lembrando suas impressões, Zhaklin diz que em 2014, quando voltou à Síria após um ano e meio, ela ficou com muita dor de ver que as pessoas tinham se tornado mais irritadas e menos confiantes, especialmente relativamente a estrangeiros, apesar de serem em geral generosas e abertas.

"Agora estou reconhecendo minha Síria antiga com pessoas começando a se abrir, ajudando uns aos outros. Além disso, as pessoas simplesmente se acostumaram à guerra, assim como eu", ressalta, detalhando que agora aceita notícias sobre a situação na Síria com menos emoções e dor.

O mesmo aconteceu com os sírios que têm que coexistir com a guerra. Quando a jovem perguntou a um sírio como ele se sente após sua casa ter sido atingida por mísseis americanos, ele respondeu: "Percebemos que, ao invés de nos atingir, atingiram a casa vizinha e voltamos a adormir." É o que significa Inshallah ("se Deus quiser"), expressão árabe mostrando a resignação perante o destino, nota Zhaklinb.

Vista da cidade de Baniyas a partir do Castelo de Margat

"Há um ano e meio as pessoas eram apáticas pensando que a guerra seria para sempre, que nunca acabaria, mas agora falta libertar apenas Idlib. […] Vejo meu povo inspirado com as cidades sendo recuperadas, com os migrantes voltando para casa, e eu estou feliz de ver o meu povo voltar a ser como era antes", concluiu.

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