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'Bom senso ganhou': especialistas comentam diretiva de Trump em relação ao aço brasileiro

Ontem (29), o presidente estadunidense Donald Trump assinou decretos que permitem contornar as cotas para a importação de metais aos EUA de alguns países, inclusive do Brasil. A Sputnik falou com vários especialistas para entender quais foram os motivos desta decisão do político norte-americano.
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De acordo com as diretivas, o secretário do Comércio dos EUA, após acordar com os chefes do Departamento de Estado, do Departamento do Tesouro e do Departamento da Defesa, obtém o direito de conceder exceções nas cotas de fornecimento de aço e alumínio para tais países como a Coreia do Sul, o Brasil e a Argentina. Deste modo, as importações destes países não terão impostas nenhumas tarifas.

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Vale ressaltar que os compradores estadunidenses podem solicitar tais exceções só no caso de não poderem garantir suas necessidades através dos produtores nacionais.

Anteriormente, em 23 de março, os EUA introduziram novas tarifas sobre a importação de aço e alumínio (25% e 10%, respectivamente). Em resposta, uma série de países anunciou medidas de retaliação econômica.

Em uma conversa com o serviço russo da Rádio Sputnik, o cientista político e diretor do Clube de Ciências Políticas de Moscou, Yevgeny Ben, explica que o motivo inicial para a imposição de tarifas globais sobre esses produtos foi a intenção norte-americana de ampliar sua produção de aço e alumínio.

"Mas, pelo visto, o bom senso ganhou. Trump entende que tem algum limite e, provavelmente, não quer travar uma guerra comercial com todo o mundo. [A questão é que] o Brasil, a Argentina e a Coreia do Sul ainda não introduziram contramedidas simétricas. Por isso, para os países que fizeram uma pausa e manifestaram, na opinião dos EUA, uma grande discrição em relação às medidas de resposta, foi possível [aplicar] um abrandamento", opinou.

Para Ben, nesta situação o presidente dos EUA está manifestando uma certa "flexibilidade" e "capacidade de manobra" a despeito de toda a dureza da sua postura.

O docente do Departamento de Ciências Políticas do Instituto de Finanças junto ao Governo da Rússia, Gevorg Mirzayan, partilha a opinião do seu colega.

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"As relações dos EUA com muitos aliados deles estão estragadas, e Trump se deu conta que, primeiro, isso não é muito vantajoso para os EUA e, segundo, se travar uma guerra comercial ou pressionar todos em todas as esferas, de fato se pode perder o fôlego muito depressa", disse. "Por isso, Trump, digamos, percebeu a necessidade de concentrar sua atenção em, digamos, países mais desagradáveis através de uma guerra comercial… e só depois lidar com os outros", acrescentou.

Ainda de acordo com outro cientista político do mesmo instituto, Pavel Salin, o passo de Trump é a ilustração do caso "em que a economia vence a política".

"Primeiro, Washington afirma que se norteia exclusivamente por motivos políticos, são impostas sanções, restrições, tarifas. Depois, fica claro que isso abala inclusive a economia americana e gradualmente, passo a passo, se fazem exceções", explica.

"Vamos tomar o exemplo do alumínio. À primeira vista, as tarifas do alumínio eram introduzidas no interesse da indústria norte-americana, inclusive contra o Canadá. E agora se revela que na empresa Alcoa, formalmente norte-americana, mas de fato americano-canadense, a parte leonina dos fatores de produção fica no Canadá […] Ou seja, vão jogar para trás", observou.

Salin acrescentou que no futuro se pode esperar também a introdução de mais exceções, além das recém-anunciadas, quando isso "for vantajoso" para os EUA.

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