Canadá não recua em críticas e condena possível execução de ativista na Arábia Saudita

O governo canadense jogou sal na ferida, renovando suas críticas às violações dos direitos humanos na Arábia Saudita semanas após dura rixa diplomática sobre o tema. Desta vez, o assunto é Israa al-Ghomgham, uma ativista xiita do sexo feminino que pode ser a primeira mulher executada por motivos políticos no reino saudita.
Sputnik

O julgamento de Ghomgham começou no início deste mês, 2 anos e 8 meses após sua prisão no final de 2015 por participação em ativismo político. Promotores estaduais do tribunal criminal especializado em Riade tentarão a pena de morte para ela e outros cinco ativistas, o que tornaria Ghomgham a primeira feminista a ser executada pelo Estado saudita por atividades políticas.

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Após os levantes da Primavera Árabe na Tunísia, Egito e outros países árabes no início de 2011, uma onda de protestos e desobediência civil varreu a Província Oriental da Arábia Saudita, onde vive a maioria da minoria xiita oprimida do país.

Como parte desse movimento, Ghomgham foi às ruas "exigir direitos civis e políticos fundamentais e básicos, como a reunião e a expressão pacíficas, a libertação de prisioneiros de consciência e defensores dos direitos humanos, além de expressar suas opiniões pacíficas nas plataformas de redes sociais", sublinhou a Organização Arábia Saudita para os Direitos Humanos (ESOHR).

Em 21 de agosto, o Ministério das Relações Exteriores do Canadá divulgou um comunicado sobre a prisão e o julgamento de Ghomgham.

"Como a ministra [Chrystia] Freeland declarou anteriormente, o Canadá está extremamente preocupado com as detenções de ativistas dos direitos das mulheres", disse o porta-voz Adam Austen, segundo o jornal The Globe Mail, um dos maiores no país. "Essas preocupações foram levadas ao governo saudita. O Canadá sempre defenderá a proteção dos direitos humanos, incluindo os direitos das mulheres e a liberdade de expressão em todo o mundo".

O Ministério das Relações Exteriores notavelmente contornou as minas terrestres em que pisou no começo do mês, quando Freeland exigiu que o reino saudita "libertasse imediatamente" a ativista Samar Badawi. 

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O governo saudita tomou o pedido como afronta explícita, chamando-o de "uso repreensível e inaceitável da linguagem" e motivando uma disputa na qual nenhum dos lados recuou. Os dois países congelaram os ativos uns dos outros, expulsaram diplomatas e empregaram uma série de outras medidas.

A reação mais chocante nessa briga, porém, foi um tweet publicado por uma conta ligada ao governo saudita que soou como ameaça velada de terrorismo, fazendo referência aos ataques de 11 de setembro de 2001. Quinze dos 19 sequestradores que realizaram esses ataques eram cidadãos sauditas.

Tweet recupera postagem de uma conta ligada ao governo saudita. O texto diz: "como diz o ditado árabe, 'aquele que interfere com o que não lhe diz respeito encontra o que não lhe agrada'", enquanto a imagem mostra um avião rumo à Torre CN em Toronto, sob a frase: "Enfiando o nariz onde não é chamado".

O advogado internacional de direitos humanos Christopher Black disse à Rádio Sputnik no início deste mês que a resposta dos sauditas às críticas canadenses é a conclusão de uma relação que vinha azedando há anos.

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O governo canadense "poderia ter feito isso por meio de uma mensagem discreta por intermédio dos embaixadores ou exercido pressão dessa maneira", disse ele ao programa Loud & Clear, da Rádio Sputnik acrescentando que a animosidade pode ter origem em um acordo secreto de US$15 bi que previa o fornecimento de carros blindados aos sauditas.

"Mas quando Trudeau chegou ao poder há alguns anos atrás, detalhes vazaram sobre o que estava acontecendo, e então histórias sobre esses carros blindados sendo usados ​​para atacar pessoas no Iêmen e esmagar dissidências internas e assim por diante, causou problemas aos sauditas e realmente os irritou. Eles sentiram que estavam sendo traídos. O Canadá estava pegando seu dinheiro, mas fazendo com que parecessem maus ao mesmo tempo ", disse Black.

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O The Globe Mail informou em julho de 2017 que os vídeos mostrando granada-foguete em Gurkha, produzidos pela empresa canadense Veículos Blindados Terradyne, foram filmados na cidade portuária de Qatif-Ghomgham, leste da Arábia Saudita. As "graves violações dos direitos humanos" que o governo do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau começou a investigar estavam ligadas à repressão do movimento xiita dissidente do qual Ghomgham participara.

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