Quem pode afastar a Rússia do setor de petróleo e gás na Síria?

A situação político-militar na Síria se estabilizou e as empresas russas iniciaram trabalhos de prospecção geológica no país árabe. Representantes do setor de petróleo e gás expressaram sua disposição em participar da restauração da infraestrutura energética do país.
Sputnik

A Sputnik avalia as perspectivas dessa parceria para a Rússia e se haverá obstáculos à implementação destes projetos.

No início de julho, o Ministério da Energia da Rússia informou que os líderes da indústria demonstraram interesse em projetos na Síria, incluindo as empresas Zarubezhneft, Zarubezhgeologiya (subsidiária da Rosgeologiya), Tekhnopromeksport (faz parte da Rostekh) e STG, a quais já possuem experiência de trabalho na região.

"Estamos interessados na cooperação com a Síria e na execução de uma série de trabalhos. Mas, por enquanto, estamos na fase inicial de negociações", disse o representante oficial da Rosgeologiya, Anton Sergeev.

Não apenas prospecção 

No entanto, as empresas russas não se limitarão apenas aos trabalhos de prospecção, mas também à restauração da infraestrutura energética do país: refinarias de petróleo, oleodutos e usinas termoelétricas.

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"A Rússia construiu infraestruturas no nordeste da África, particularmente na Líbia. Temos uma vasta experiência de construção de oleodutos e a utilizamos com sucesso no Oriente Médio e Norte da África. Se não ocorrer nenhum desastre militar adicional, em dois ou três anos podemos restaurá-los na Síria", disse Vitaly Bushuev, diretor-geral do Instituto de Estratégia Energética.

Vale a pena observar que, antes da guerra, a rede elétrica do país era uma das mais desenvolvidas e poderosas da região. Agora, mais de metade das usinas não funcionam. Portanto, o principal objetivo nesse estágio é fornecer eletricidade para as casas de milhões de pessoas.

"Foram assinados memorandos de entendimento entre a Síria e a Rússia relativos à reconstrução de usinas sírias. Por exemplo: a central térmica em Aleppo. Precisamos lançar o segundo, terceiro e quarto geradores, e vamos também explorar a possibilidade de lançar dois geradores a vapor para gerar 700 MW", disse o ministro da Eletricidade da Síria, Zuhair Kharboutli, em uma entrevista à Sputnik Árabe.

Plano estratégico

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Se levarmos em conta apenas as estatísticas, o interesse da Rússia nos projetos de petróleo e gás da Síria não é muito claro. Segundo o relatório do ano passado, as reservas de petróleo conhecidas no país são de apenas 2,5 bilhões de barris e de gás natural — 0,3 trilhão de metros cúbicos. Como comparação: no Irã, os números correspondentes são de 158,4 bilhões de barris e 33,5 trilhões de metros cúbicos.

No entanto, estas são apenas as reservas conhecidas, cujos estoques têm vindo a diminuir em todo o mundo. Em particular, no início de julho, analistas da empresa de investimentos norte-americana Sanford C. Bernstein & Co. anunciaram um declínio catastrófico no investimento dos principais produtores. Como resultado, os estoques diminuíram em média 30%.

A abordagem das empresas russas no setor de petróleo e gás na Síria é um plano estratégico para restaurar não apenas a economia da República Árabe, mas também para vir a obter lucros significativos ao longo de décadas. E já nesta fase é possível falar sobre o mar Mediterrâneo, onde provavelmente se encontram as maiores reservas de gás natural do mundo. O acesso territorial a elas, entre outros países, também passa pela Síria.

Naturalmente, esse trabalho de grande escala envolve grandes investimentos, e o governo da Síria não possui esses recursos. Portanto, o encargo do financiamento, aparentemente, recairá sobre as empresas russas.

"Vamos restaurar e os sírios nos pagarão com parte do petróleo produzido nos campos que serão restabelecidos", assegurou Vladimir Isaev, professor do Instituto da Ásia e África da Universidade Estatal de Moscou.

Tendo em conta a atual situação política externa, ao mesmo tempo que as empresas russas alcançam sucessos no sector de petróleo e gás na Síria, as tentativas de outros países de expulsar a Rússia serão intensificadas. Em primeiro lugar, isso diz respeito aos gigantes internacionais do petróleo e gás.

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Sem dúvida, as corporações mundiais tentarão integrar os seus negócios na Síria, quando a guerra acabar. Mas é pouco provável que o governo da Síria as aceite de braços abertos. Estão demasiado frescas as memórias das ações da Shell e da Total, que deixaram o país em dezembro de 2011 em meio a retórica crescente dos líderes ocidentais contra o governo legítimo. Mas mesmo os países amigos não deverão ser capazes de "afastar" a Rússia. Muito provavelmente, eles vão assumir projetos que lhes são mais familiares. O primeiro na lista é a China, com seu enorme potencial de investimento. 

"Pequim não tem experiência, porque a indústria de refinação de petróleo foi criada pela União Soviética. A China vai construir estradas, já foram assinados contratos, assim como restaurar a agricultura ou, por exemplo, fábricas têxteis", disse Vladimir Isaev.

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