OPAQ aponta uso de cloro na Síria, mas ex-embaixador britânico rebate relatório

O relatório da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) que aponta o provável uso de gás cloro na localidade síria de Saraqeb, em fevereiro, é "seriamente equivocado" porque sua narrativa é baseada em evidências fornecidas por jihadistas, informou um ex-embaixador do Reino Unido.
Sputnik

Uma missão de pesquisa de fatos da OPAQ publicou na quarta-feira um relatório que "determinou que o cloro, liberado de cilindros por impacto mecânico, provavelmente foi usado como arma química em 4 de fevereiro de 2018, no bairro Al Talil de Saraqib", na província de Idlib, na Síria.

Onze pessoas foram tratadas após o ataque por sintomas leves e moderados de exposição a produtos químicos tóxicos, disse a OPAQ no mesmo documento sobre suas descobertas.

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A OPAQ baseou suas conclusões em vários fatores, a saber, a presença de dois cilindros vazios, que supostamente continha cloro, bem como pacientes que foram admitidos em instalações médicas após o incidente relatado.

O relatório também afirma que a missão nunca chegou ao local do suposto ataque e se baseou apenas em "evidências" fornecidas por três ONGs, duas das quais são baseadas no exterior. Apesar da narrativa convincente da OPAQ, o ex-embaixador britânico na Síria, Peter Ford, caracterizou o relatório como "seriamente equivocado" e "profundamente perturbador".

"A missão deveria ser uma descoberta de fatos, mas quando você realmente lê as 34 páginas do relatório, você descobre que não há nenhum fato nele — nenhum fato que é apoiado por observadores independentes", disse Ford à RT.

"Você ouve afirmações ridículas como 'ouvimos barris sendo jogados de helicópteros'. Bem, me desculpe, isso é uma impossibilidade física. E o relatório está cheio de declarações idiotas como essas que até mesmo uma criança poderia descartar", acrescentou.

De fato, todo o relato das OPAQ é baseado em depoimentos de testemunhas e provas materiais fornecidas por ONGs selecionadas, bem como em registros médicos oferecidos pelas mesmas fontes questionáveis, incluindo o Centro de Documentação de Violações Químicas da Síria (CVDCS), o notório Defesa Civil Síria (SCD) — mais conhecida como Capacetes Brancos — e a Sociedade Médica Americana Síria (SAMS).

Ford observou que os Capacetes Brancos são um "auxiliar jihadista bem conhecido que ajudou nas decapitações e que são notórios por fazer propaganda", e que a SAMS compartilha "uma reputação similar".

Outras informações relevantes para a vigilância internacional de substâncias químicas foram coletadas da "mídia de código aberto" porque "várias restrições", principalmente relacionadas à segurança, impediram "o acesso imediato aos locais" pela missão.

"Acredite ou não, os inspetores não foram à […] alegada cena do crime. Por quê? Porque está nas mãos dos jihadistas. É por isso que eles não foram", afirmou Ford. "Essas pessoas são totalmente afiliadas aos jihadistas, mas os inspetores aceitaram, pelo visto, suas amostras que poderiam ter vindo de qualquer lugar".

Enquanto a OPAQ não atribuiu responsabilidade pelo ataque, os Capacetes Brancos e a SAMS já apontaram o dedo para Damasco.

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No entanto, as descobertas inconclusivas da OPAQ no incidente de Saraqeb provavelmente serão usadas para apoiar ainda mais a narrativa dos EUA e seus aliados, que repetidamente usaram as alegações dos Capacetes Brancos, SAMS e outras fontes questionáveis para atribuir inequivocamente a culpa ao presidente sírio Bashar Assad.

Os 'incidentes' químicos também foram usados como pretexto para atacar instalações do governo na Síria em abril de 2017 e, novamente, no mês passado.

"Há sinais no relatório de parcialidade", avaliou Ford. "Tenho certeza de que serão feitas tentativas para explorar esse relatório muito inadequado".

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