Acordo entre EUA e Coreia do Norte está ameaçado: por que isso é vantajoso para Rússia?

A reunião do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, corre o risco de não ser realizada depois de Washington ter assumido um tom muito duro nas negociações.
Sputnik

Pyongyang acredita que os norte-americanos estão pressionando o desarmamento da Coreia do Norte de um modo unilateral e não estão dispostos a fazer concessões. Isso pode permitir a Moscou intervir como mediador.

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Pyongyang cancelou as negociações com Seul previstas para 16 de maio e reiterou a sua indignação com os exercícios militares conjuntos entre Coreia do Sul e Estados Unidos. Anteriormente, John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, propôs a Kim desmantelar o arsenal nuclear e levá-lo para destruição no estado norte-americano do Tennessee, com o propósito de garantir o sucesso da cúpula. Em contrapartida, os norte-americanos prometeram a atuação das suas empresas no mercado norte-coreano. No entanto, o assunto sobre investimento não foi abordado.  

Pyongyang esperava um negócio mais lucrativo: para dar impulso ao desenvolvimento da economia norte-coreana, será necessário uma ajuda séria dos EUA. Nesse aspecto, Kim Jong-un fica em uma situação difícil, os militares reavaliarão se vale a pena desistir do programa nuclear, o que inevitavelmente afetará sua credibilidade. 

Desse modo, o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte considera que os riscos são enormes.

"Perderemos o interesse nas negociações se a Casa Branca tentar nos jogar para escanteio", avisa.

Contra lobby das armas

Os conselheiros de Donald Trump, especialmente Bolton, torpedearam o acordo conscientemente, disse Dmitry Abzalov, vice-presidente do Centro de Comunicações Estratégicas.

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"Se a Coreia do Norte desistir das armas nucleares, projetos importantes dos EUA na região do Pacífico poderão não ser necessários. Primeiramente, o sistema de defesa antiaérea adquirido no Japão e Coreia do Sul por bilhões de dólares para justificar a ameaça de Pyongyang. Trata-se de um sério lucro financeiro dos empresários norte-americanos – patrocinadores do Partido Republicano", opina o especialista. 

Segundo Abzalov, na administração de Trump tem havido um confronto entre o chefe do Departamento de Estado, Mike Pompeo, que apoia as negociações, e o "falcão" Bolton, cujas declarações tornam a administração problemática. 

"O líder norte-americano deve decidir de qual lado ele está, e quais interesses levará em conta – estratégicos a longo prazo ou táticos, mais relacionados a demandas do lobby de defesa", observa Abzalov.

Essa decisão pode influenciar considerações geoestratégicas não necessariamente favoráveis à transação. A reconciliação com a Coreia do Norte é capaz de frustrar a contenção de Pequim – a criação de um sistema de defesa antiaérea na Coreia do Sul e Japão beneficia os Estados Unidos, pois permite o seu uso contra a China. Por isso, Washington quer concessões incondicionais de Pyongyang. Só assim o acordo terá sentido para os norte-americanos.

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No entanto, ao impor demasiada pressão sobre Pyongyang, Washington cruzou a linha, afirma Aleksandr Vorontsov, especialista em Coreia e Mongólia da Academia de Ciências da Rússia.

"A posição de Washington pode ser descrita assim: primeiramente, vocês abandonam o programa nuclear e depois pensaremos o que podemos lhes propor. A Coreia do Norte precisa de garantias e acredita que, se vender seu programa nuclear, terá que cobrar um preço alto", comenta o especialista.

Segundo ele, Kim Jong-un lembra o destino de Kadhafi e não quer seguir o mesmo caminho. 

O especialista lembrou que Pyongyang considera Washington como uma séria ameaça militar. 

"As manobras conjuntas dos EUA e Coreia do Sul envolvem mais de 300 mil pessoas. As manobras causam medo e desconfiança entre os norte-coreanos. Os meios de comunicação ocidentais não prestaram atenção a essa questão. Mas se lembram como eles reagiram aos recentes exercícios russos na Bielorrússia, com a participação de um contingente dez vezes menor!", afirma indignado.

Rússia entra em jogo

Se prevalecer o ceticismo em Pyongyang, o discurso sobre a renúncia de armas nucleares não vai cessar, mas os EUA perderão o protagonismo. Nessas circunstâncias, a Rússia poderá atuar como uma mediadora, juntamente com a Coreia do Sul, Japão e China. 

"A situação ideal para a Rússia é se a Coreia do Norte concordar com a desnuclearização, não com os norte-americanos, mas com a China, Coreia do Sul e conosco", acredita Abzalov.

Ele enfatizou que a continuação de um confronto moderado seria vantajoso para a Rússia. 

"O formato atual das negociações é uma transação particular passando longe de Moscou. Nesta situação, o fracasso diplomático de Trump poderia mudar o cenário", resume o especialista.

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