Como armas francesas para Líbano acabaram nas mãos dos sauditas que combatem no Iêmen

Uma associação iemenita de direitos humanos apresentou uma queixa contra o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman Al Saud, por "cumplicidade em atos de tortura" durante a operação militar no Iêmen liderada por Riad. Paris também está sob pressão, pois a coalizão usa no Iêmen armas de produção francesa.
Sputnik

Entrevistado pela Sputnik França, o especialista Tony Fortin, membro da direção do Observatório de Armamentos, explicou como a França se tornou fornecedora de armas usadas agora contra os rebeldes iemenitas.

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Segundo o analista, um dos acordos mais duvidosos de Paris foi a venda de armas no âmbito do projeto DONAS, armas para o exército libanês pagas pela Arábia Saudita. Contrariando o plano inicial, afirma Fortin, a maioria destes armamentos serão provavelmente utilizados pelas tropas sauditas na guerra do Iêmen.

"Indústria francesa esteve desde 2011 fabricando as armas que, como pensavam, iriam proteger o Líbano e ajudar no combate ao terrorismo […] Mas em 2015 [o governo] pediu aos produtores para adaptarem os armamentos desenvolvidos às condições do Iêmen. Várias empresas se surpreenderam com o fato de as armas que estiveram produzindo irem ser utilizadas para bombardear a população civil", comentou o analista francês.

Apesar das preocupações por parte de ativistas de direitos humanos e especialistas, até hoje não foi criada nenhuma comissão internacional que verifique se tais contratos respeitam a legislação internacional, sublinha Fortin. No entanto, ressalta, há sinais que o novo governo da França esteja disposto a se distanciar desta prática. Em particular, um grupo de deputados propôs criar uma comissão que examine os contratos de venda firmados nos últimos três anos.

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Além disso, a edição Challenges informou sobre o próximo fechamento da empresa ODAS, controlada pelo governo francês, através da qual Paris e Riad firmavam acordos de venda de armas.

De acordo com Fortin, um dos problemas de tais contratos militares é seu caráter parcialmente secreto, pois são realizados com participação de empresas intermediárias, cujas atividades e legitimidade suscitam dúvidas, além do caráter não transparente dos próprios acordos: não se sabe o que o país fornece e em que quantidade. Por isso o analista avalia positivamente as notícias sobre fechamento da ODAS.

O conflito armado no Iêmen tem se arrastado desde 2014. Por um lado, estão os rebeldes houthis do movimento xiita Ansarullah, e por outro — as tropas governamentais e milícias, com apoio aéreo e no terreno da coalizão árabe encabeçada pela Arábia Saudita.

Segundo os dados, desde o início das ações da coalizão árabe no Iêmen, a Arábia Saudita já utilizou mais de 150 mil militares e mais de 100 aeronaves na luta contra os rebeldes do país vizinho, onde a intervenção já deixou milhares de vítimas.

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