Será isto sinal de que algo muito grave está chegando? O economista Philippe Herlin faz sua análise para a Sputnik França.
Corrida ao ouro
A crise pandêmica desencadeou uma verdadeira corrida ao ouro. O metal amarelo, sempre um porto seguro em tempos de crise, valorizou fortemente em tempos de pandemia. Uma onça de ouro (28,35 gramas) está sendo negociada atualmente a mais de US$ 1.700 (R$ 8.704), um nível bem acima do período anterior à pandemia.
A onda de choque econômico causada pelo coronavírus já está começando a ser sentida em muitos países. De acordo com muitos observadores, o pior ainda está por vir. Será que os gigantes financeiros Morgan Stanley, Bank of America, UBS, Wells Fargo e Blackrock anteciparam o desastre?
A questão é legítima, tendo em conta que essas grandes empresas aumentaram repentinamente suas reservas de ouro em quase US$ dois bilhões (R$ 10,24 bilhões) no primeiro trimestre de 2020, totalizando US$ sete bilhões (R$ 35,84 bilhões).
Por exemplo, a Blackrock, a maior empresa gestora de ativos do mundo, triplicou suas aplicações no metal amarelo.
Para o economista Philippe Herlin, os gigantes financeiros "fazem isso em grande parte para seus próprios clientes institucionais, significando que estes últimos estão redirecionando parte de suas carteiras para o ouro. Eles consideram que é um bom investimento para os próximos meses".
Concretamente, a Blackrock aumentou sua carteira em ouro de US$ 387 milhões (R$ 1,98 bilhão) em 31 de dezembro de 2019 para US$ 1,2 bilhão (R$ 6,14 bilhões) em 31 de março de 2020.
Já no caso da Morgan Stanley, as suas aplicações em ouro pularam de US$ 600 milhões (R$ 3,07 bilhões) para US$ 2,05 bilhões (R$ 10,50 bilhões).
O site Or.fr informou que, desde finais de março, ocorreram transferências físicas recorde de ouro para os Estados Unidos: nada mais nada menos que 550 toneladas de ouro, ou seja, aproximadamente o equivalente à produção mundial no mesmo período.
Le plus gros transfert d’#or physique jamais réalisé https://t.co/zN541cxGXW pic.twitter.com/aPe13yVvVY
— OR.FR (@Goldbroker_FR) June 3, 2020
A maior transferência física de ouro jamais efetuada
Ouro, porto seguro
Para Philippe Herlin, é tudo uma questão de opções.
"Quando você olha para as principais classes de ativos, verá que o ouro está muito bem posicionado. Os imóveis, tanto comerciais quanto residenciais, sofrerão com a explosão do desemprego e a recessão. É difícil imaginar que se valorizarão em um futuro próximo. No que diz respeito às ações, os mercados quase voltaram a seus níveis pré-crise, mas isso se deve em grande parte à política monetária dos bancos centrais".
Para o especialista, "as perspectivas para a economia real são bastante sombrias. Os títulos já estão sendo negociados a taxas próximas de zero ou mesmo negativas. Ainda há as criptomoedas e os mercados de arte, mas os volumes são residuais".
Perante tal contexto, o economista – que considera que o ouro não está supervalorizado – o metal amarelo seria o ativo com maior margem de crescimento.
Cenário dramático em perspectiva
Perante o cenário de drama econômico e social, com depreciação das moedas, inflação, desemprego e quedas abruptas do Produto Interno Bruto (PIB) quer nos EUA quer na Europa, os países e os bancos centrais não hesitaram em recorrer à "artilharia pesada" para combater os efeitos da crise econômica.
Nos Estados Unidos, o regulador FED está injetando milhares de bilhões de dólares, sobretudo sob a forma de empréstimos às empresas.
Como Philippe Herlin gosta de lembrar, "o FED não pode imprimir ouro", ao contrário do papel-moeda.
Na Europa, a intervenção do Banco Central Europeu atingirá níveis sem precedentes: mais de 1,6 trilhão de euros (R$ 7,55 trilhões).
Isso cria um contexto propício a um aumento exponencial no preço do ouro? Philippe Herlin prevê que sim.
"O preço do ouro em euros já bateu seu recorde de 2011. Acho que o ouro vai ultrapassar os US$ 1.900 (R$ 9.728) por onça".
Esta previsão do especialista francês vai de encontro a um relatório dos analistas do Bank of America, que elevaram a previsão a 18 meses do preço do ouro para US$ 2.000 - US$ 3.000 (R$ 10.240 - R$ 15.360) por onça.